segunda-feira, 28 de setembro de 2009

PEQUENAS ATITUDES CONSTRÓEM GRANDES SERES HUMANOS

O dia a dia de um professor de Educação Física pode ser uma experiência enriquecedora de descobertas de atitudes e valores deflagrados por nossos alunos. E em pequenas atitudes, podemos descobrir o quanto poderosa é a vivência de momentos e relações proporcionadas em nossas aulas.

Abro a oportunidade para relatar uma experiência vivida por mim em uma de minhas aulas. Estava com uma turma de 6 anos (1o. ano do ciclo 1) e explanei uma brincadeira coletiva chamada "pega pega na linha". A brincadeira consistia em desenvolver a orientação espaço-temporal (pois se utiliza das linhas da quadra poliesportiva entre elas as linhas do basquete, futsal, voleibol entre outros).

Além de outras combinações de elementos como coordenação motora geral, velocidade, deslocamento, agilidade, a principal característica da brincadeira se baseia na  estratégia (pois a criança precisa desenvolver rapidamente situações de escape do pegador e encontrar saídas para que não se aglomere com os demais alunos nas linhas.

Entre as regras da brincadeira. se o pegador tocar algum aluno, este deverá se sentar sobre a linha, bloqueando assim a passagem dos demais (ficando livre apenas o transito do pegador ou pegadores).

A brincadeira é divertida, pois todos participam e podem alternar funções ao longo da atividade. Muitos querem ser os pegadores e outros adoram a possibildade de fugir e correr alegremente com o objetivo de não ser pego.

Durante esta atividade, a brincadeira estava pegando fogo, com todos participando, correndo e interagindo e alguns alunos já capturados e sentados nas linhas da quadra, quando um aluno, em sua maior humildade, me fez a seguinte pergunta:

PROFESSOR, COMO FAZ PARA SALVAR OS QUE ESTÃO SENTADOS?

Confesso que fiquei sem palavras por alguns segundos tamanha a pertinência da pergunta. Esse aluno (e porque não outros?) não estava interessado em ganhar ou fugir do pegador e sim com a preocupação focada na condição de seus colegas, do porquê eles não poderiam estar interagindo com os demais e principalmente: do porquê eu (aluno) não tenho (possuo) ferramentas (regras) para solucionar essa situação-problema?

Ao tomar a palavra, fiz o aluno e a turma perceber que a regra de ficar sentado caso tenha sido pego teria como objetivo dificultar ainda mais a passagem dos outros e forçar os demais a reconstruirem suas estratégias para não serem capturados. Aproveitei a oportunidade e fiz uma opção para salvar os colegas tocando neles durante a atividade, o que foi rejeitado pela maioria e não utilizado naquela oportunidade.

Mas esse momento único me fez observar características muito peculiares de meus alunos:

De que muitos ou alguns alunos se interessam pelas brincadeiras não pelo fato de simplesmente jogar e sim pela oportunidade única de interagir com seus colegas naquele dia.

De que é possível estabelecer, criar e recriar regras e ações ao longo de uma atividade com objetivos e ações distintas: seja ela com a finalidade de incrementar a dificuldade da brincadeira ou na construção de uma atividade coletiva de modo integral.

E por fim, que pequenas atitudes (e consequentemente uma grande coragem em perguntar, refletir, criticar, questionar) podem e formam grandes seres humanos, altruístas e conscientes de sua força e potencial para corrigir, alterar ou salvar situações ou colegas!

2 comentários:

  1. Parabéns TG, isso é só mais uma amostra de que a Educação Física não se compromete somente com o corpo (físico) do aluno, mas sim com o raciocínio, solidariedade, busca de estratégias entre outros. Infelizmente outros professores de outras disciplinas não conseguem enxergar assim, mas essa é uma outra história para uma outra discussão. Abraço irmão e vamos firmes na nossa luta diária. (Felipe Stanzioni)

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  2. Valeu Felipe, obrigado por estar aqui... abração... Claudio

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