segunda-feira, 12 de outubro de 2009

COMÉDIAS DA VIDA ESCOLAR

COMÉDIAS DA VIDA ESCOLAR

Por: José Claudio Höfling Filho

Vocês já assistiram as “Comédias da Vida Privada”? Aquela famosa séria televisiva do autor Luis Fernando Veríssimo em que o cotidiano familiar e profissional chocam-se em bem humoradas histórias.


Pois bem, aproveito a oportunidade para abrir neste blog (guardada as devidas proporções) uma nova série de relatos e curiosidades do mundo da Educação Física denominada “Comédias da Vida Escolar” com o episódio intitulado: Resistência pedagógica e falso moralismo familiar.


É praticamente imensurável a quantidade de pais e familiares que se auto intitulam “conhecedores profundos da vida escolar de seus filhos” e mais: “conhecedores profundos de todo o processo pedagógico escolar de seus filhos”.


Tenho a (in)satisfação de vivenciar diariamente (e acredito que milhares de outros profissionais da Educação também) de eventos e ocorrências de pais e familiares dentro da Escola. De pais que adentram alcoolizados, raivosos, descontrolados ou inquietos com as condições ou situações em que seus filhos estão ou foram expostos, para pais participativos, cooperativos e preocupados com o bom andamento e a conjuntura escolar em que seus filhos estão inseridos.


Mas é no quesito “cobranças” que os pais se consagram campeões no cotidiano escolar. Cobrar menos tarefas para seus filhos (acreditem, isso é muito comum) ou solicitar uma atitude menos controladora e autoritária dos professores ou da Escola para que seus filhos possam produzir mais é alguns dos mais variados acontecimentos que presenciamos. Pais que jamais frequentaram uma reunião escolar (muitos só vem à Escola para fazer a matrícula) só adentram novamente para tratar de assuntos comportamentais de seus filhos (que geralmente ou diariamente resistem aos padrões mínimos de civilidade dentro da Escola).


Muitos deles insistem que seus filhos são perseguidos ou que tais atitudes negativas sempre terão uma segunda explicação/absolvição de seu filho.

Comédias à parte e sem prolongar muito essas questões (até porque cada caso é um caso) não quero neste relato desmerecer nem ao menos minimizar a importância da presença e atuação dos pais na vida escolar, pelo contrário, pois tenho a convicção de que a ação intensiva e racionalmente fiscalizadora dos pais combinados com o feedback e as informações transmitidas a eles (e vice versa) é um indispensável instrumento para o desenvolvimento e acompanhamento do aluno.

Infelizmente essa parceria é pouco/mal empregada no dia a dia escolar distanciando cada vez mais a relação escola – aluno – família.


Pretendo expressar com minhas palavras neste texto a irracionalidade (observada em minha vida profissional) frente à Educação dos filhos por parte de alguns pais por meio de suas reivindicações, cobranças e críticas à Escola assim como a falsa moralidade observada em algumas situações, vejamos:


Muitos professores se cercam de diversas formas de avaliar seus alunos ou simplesmente como alguns denominam, “verificar o desenvolvimento pleno de seu aluno”.


Entre as diferentes formas de avaliação podemos destacar as pesquisas dirigidas, trabalhos específicos e provas dissertativas, que são considerados satisfatórios instrumentos para avaliar tais desempenhos.


Porém, toda atividade ou iniciativa pedagógica que foge da esfera corporal ou da prática (corporal?) da Educação Física ainda é encarada pelos alunos de forma preconceituosa ou descontente. Afinal, o aluno pode pensar da seguinte forma: “porque vou estudar algo que sei (ou que penso que sei)”?

Se o professor orientar que seus alunos façam um resumo de regras de futsal, por exemplo, certamente o objetivo da atividade ou avaliação ficará comprometido e a reclamação e insatisfação dos alunos será pertinente.


Observei um caso interessante que autentica o que estamos tentando evidenciar.

O departamento de Educação Física de uma escola particular havia adotado no início do ano letivo uma nova postura frente à avaliação de seus alunos, onde atividades de cunho teórico e outros processos avaliatórios foram incorporados com a finalidade contemplar diferentes habilidades dos alunos.


Porém, tudo que é novo realmente passa por um processo de afirmação quanto a sua legitimidade e ao mesmo tempo de desconfiança tanto por parte dos alunos quanto dos professores (acreditem, alterar o ritmo de trabalho de um professor, ou seja, mexer em algo que esta sossegado, tranquilo e fácil é motivo de muito resistência).

Quanto maior a idade tanto dos alunos quanto dos professores, maior é a resistência para aceitar e acolher algo novo para atingir novas experiências e resultados. Se iniciarmos um projeto pedagógico o mais cedo e apropriado possível, menor será a oposição/ resistência e mais cedo as mudanças serão contempladas e observadas.


Voltando ao nosso episódio, por meio dos novos atos institucionais (de processos avaliatórios), é aceitável observar uma sinuosidade nos resultados dos alunos obtidos com estas novas avaliações. Alunos até então acostumados a receberem médias consideráveis (na maior parte dos casos devido às suas aptidões e habilidades corporais) deparam-se agora com novos desafios e consequentemente inquietações sobre seu desempenho. Isso não quer dizer que os alunos, só por forças dessas mudanças, não atingirão suas notas e desempenhos anteriores, afinal, o aluno está (ou deverá estar) acostumado a mudanças/ desafios e novas rotinas de trabalho.


E quando as coisas não vão bem, onde esses alunos se apoiarão em primeira estância: naturalmente nos pais.

Onde invariavelmente os pais não despejavam suas atenções no boletim escolar (no qual seu filho sempre aparecia com notas máximas, ou o famoso A ou A+) agora se vêem forçados a compreender novas tendências de desempenho de seu filho, virando motivo de preocupação.


Reinserindo a comédia novamente, nesta mesma escola e passado as primeiras notas bimestrais, observou-se um aumento expressivo de pais (aqueles mesmos detentores do saber acadêmico e da fiscalização escolar de seus filhos) revoltados e voltando-se contra os professores devido as suas novas metodologias de trabalho.


Veja aqui algumas das frases proferidas por esses pais:


- Porque meu filho fará mais provas se é Educação Física?

- Eu acho que meu filho já estuda demais e mais provas o atrapalharão.

- Desde quando tem que fazer prova para fazer Educação Física?

- Meu filho esta sendo prejudicado nas notas de Educação Física por causa das provas... ele nunca precisou fazer isso antes!

- Se continuar assim, vou pedir um atestado para meu filho não fazer mais Educação Física!

- Se isso continuar, vou tirar meu filho dessa escola!


Charge publicada originalmente no jornal francês Quest-France

Pára tudo! Agora mexemos num vespeiro! Alunos saindo da escola por esses motivos configura caso de intervenção por parte da diretoria.


Em um pensamento diretor (empobrecido e pedagógicamente frágil) certamente observaríamos esta linha de raciocínio: "não podemos perder mais alunos e ainda mais por causa de invenções pedagógicas por parte da Educação Física!"


E o que vemos é um triste e melancólico cabresto pedagógico, onde as idéias, as novas concepções, as novas tentativas e o ânimo de construir algo novo para a escola e alunos são tolhidas cruelmente por gestores ou diretores despreparados.


Afinal, não é interessante nem mesmo lucrativo fazer e incentivar o professor a pensar a agir, a construir e sim mantê-los sob controle (pois isso gera despesa e pouco retorno financeiro). E o pior de tudo isso é quando os próprios professores de Educação Física sabotam essas iniciativas jogando pais e alunos contra a coordenação ou outros professores, mas isso é uma discussão para uma outra oportunidade, quando falaremos sobre caráter.


Tenho a convicção de que os pais e professores querem o melhor para seus filhos e alunos.


Buscar, inovar e estreitar as relações aluno-família é uma competência comportamental que deve ser diariamente trabalhada pelos professores e fomentada, fortalecida e respaldada pelas equipes diretivas.


Por fim, é dever dos pais fiscalizar, observar e porque não questionar toda a vida escolar de seu filho, desde que esteja amparado na racionalidade, no bom senso, na responsabilidade e no ato de estar desarmado de intenções e pré-julgamentos das ações e inovações pedagógicas do professor.


Quer saber mais sobre Luis Fernando Veríssimo?

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

PEQUENAS ATITUDES CONSTRÓEM GRANDES SERES HUMANOS

O dia a dia de um professor de Educação Física pode ser uma experiência enriquecedora de descobertas de atitudes e valores deflagrados por nossos alunos. E em pequenas atitudes, podemos descobrir o quanto poderosa é a vivência de momentos e relações proporcionadas em nossas aulas.

Abro a oportunidade para relatar uma experiência vivida por mim em uma de minhas aulas. Estava com uma turma de 6 anos (1o. ano do ciclo 1) e explanei uma brincadeira coletiva chamada "pega pega na linha". A brincadeira consistia em desenvolver a orientação espaço-temporal (pois se utiliza das linhas da quadra poliesportiva entre elas as linhas do basquete, futsal, voleibol entre outros).

Além de outras combinações de elementos como coordenação motora geral, velocidade, deslocamento, agilidade, a principal característica da brincadeira se baseia na  estratégia (pois a criança precisa desenvolver rapidamente situações de escape do pegador e encontrar saídas para que não se aglomere com os demais alunos nas linhas.

Entre as regras da brincadeira. se o pegador tocar algum aluno, este deverá se sentar sobre a linha, bloqueando assim a passagem dos demais (ficando livre apenas o transito do pegador ou pegadores).

A brincadeira é divertida, pois todos participam e podem alternar funções ao longo da atividade. Muitos querem ser os pegadores e outros adoram a possibildade de fugir e correr alegremente com o objetivo de não ser pego.

Durante esta atividade, a brincadeira estava pegando fogo, com todos participando, correndo e interagindo e alguns alunos já capturados e sentados nas linhas da quadra, quando um aluno, em sua maior humildade, me fez a seguinte pergunta:

PROFESSOR, COMO FAZ PARA SALVAR OS QUE ESTÃO SENTADOS?

Confesso que fiquei sem palavras por alguns segundos tamanha a pertinência da pergunta. Esse aluno (e porque não outros?) não estava interessado em ganhar ou fugir do pegador e sim com a preocupação focada na condição de seus colegas, do porquê eles não poderiam estar interagindo com os demais e principalmente: do porquê eu (aluno) não tenho (possuo) ferramentas (regras) para solucionar essa situação-problema?

Ao tomar a palavra, fiz o aluno e a turma perceber que a regra de ficar sentado caso tenha sido pego teria como objetivo dificultar ainda mais a passagem dos outros e forçar os demais a reconstruirem suas estratégias para não serem capturados. Aproveitei a oportunidade e fiz uma opção para salvar os colegas tocando neles durante a atividade, o que foi rejeitado pela maioria e não utilizado naquela oportunidade.

Mas esse momento único me fez observar características muito peculiares de meus alunos:

De que muitos ou alguns alunos se interessam pelas brincadeiras não pelo fato de simplesmente jogar e sim pela oportunidade única de interagir com seus colegas naquele dia.

De que é possível estabelecer, criar e recriar regras e ações ao longo de uma atividade com objetivos e ações distintas: seja ela com a finalidade de incrementar a dificuldade da brincadeira ou na construção de uma atividade coletiva de modo integral.

E por fim, que pequenas atitudes (e consequentemente uma grande coragem em perguntar, refletir, criticar, questionar) podem e formam grandes seres humanos, altruístas e conscientes de sua força e potencial para corrigir, alterar ou salvar situações ou colegas!

terça-feira, 15 de setembro de 2009

REFLEXÕES SOBRE A CONSTRUÇÃO DE UM PROJETO PEDAGÓGICO PARA EDUCAÇÃO FÍSICA



Você leitor (que possui alguma experiência com computadores), conhece o velho (e atualíssimo) processo do “recorta – e – cola” nos produtores de texto? Pois acredite, esse procedimento é usado indiscriminadamente por inúmeros profissionais da Educação (neste caso em destaque, os de Educação Física) com a finalidade de construir e desenvolver de projetos, planejamentos e concepções de trabalhos voltados para a área da Educação Física, lazer e Esporte.


Através da internet e do acesso à informação em diversos meios de comunicação, a utilização indevida, desprovida e inconseqüente de artigos, textos e trabalhos é cada vez maior e consequentemente, seu uso racional ou acadêmico fica cada vez prejudicado quando observamos em nosso meio profissional, plágios, cópias e imitações sofríveis.

Já perdi a conta das vezes em que participei de reuniões em instituições esportivas, grêmios recreativos e esportivos, fundações municipais de esporte e lazer que iniciam suas reuniões com a seguinte frase: “Bom pessoal, gostaria de agradecer a presença de todos e vamos dar início a aprovação do projeto (de sortidos temas) e caso alguém discorde, favor manifestar o descontentamento”.


Aprovação? Quem irá ler isto? Para quem este projeto será destinado? Porque convidam as pessoas para fazer observações (que dificilmente serão ouvidas e inseridas no projeto) sendo que poderiam ter se sentado com elas inicialmente, trabalhado e discutido juntos?

Isso quando esses profissionais (do Esporte?) iniciam os projetos com a seguinte definição: “...o objetivo deste projeto é promover a inclusão esportiva...” A indiscriminada e oportuna utilização da palavra INCLUSÃO (nobilíssima alias, visto sua importância no escopo da Educação nos dias de hoje) é algo que chama a atenção para a criação reducionista e por assim dizer, sofrível desses profissionais nas diversas esferas da Educação Física.

Aproveito a oportunidade para salientar uma posição que defendo (e muitos profissionais também) quando nos referimos e relacionamos a Educação Física X Esporte e que são enfatizadas de forma clara e racional nas palavras do Professor Dr. José Guilmar Mariz de Oliveira (2006):


“... é necessário enfatizar, nesta oportunidade, que Educação Física não é necessariamente sinônimo de Esporte, caracterizando-se ambos como áreas, ou fenômenos distintos, e com objetivos diferentes.”


Nas aulas de Educação Física as alunas/ os alunos não praticam esporte. Nas aulas de Educação Física as alunas/ os alunos ESTUDAM, teórica e praticamente, o MOVIMENTAR-SE, considerado como uma característica essencial do ser humano.”


A importância do tema ESPORTE não se dá só na Educação Física, mas nas demais disciplinas. Negar sua importância (visivelmente traduzida em sua força e manifestação na sociedade) ou mesmo omitir sua relevância para os variados temas e situações em que ela esta inserida (economia, história, biologia, geografia, política, áreas das ciências sociais entre outras) é perder a oportunidade de empregar uma instituição inegável de informações para o desenvolvimento e enriquecimento cultural e acadêmico de nossos alunos.


Entretanto, mais importante do que temas e conteúdos a serem utilizados em uma aula de Educação Física, o planejamento e a construção de um PROJETO PEDAGÓGICO coerente e tangível (tanto para o professor quanto para o aluno) são considerados chaves para o sucesso na formação de uma proposta educacional/ pedagógica séria e coerente.

MAS O QUE É PROJETO PEDAGÓGICO?

PROJETU = do latim: particípio passado do verbo: PROJICERE = lançar à frente/ projetar/ (pré)ver os resultados de uma ação/ antecipar o futuro.

É o projeto pedagógico que possui como intuito nortear direções/ rumos e caminhos a serem percorridos, além de contemplar qual tipo de aluno a ser formado. Entre suas principais qualidades podemos destacar a contemplação das decisões e objetivos a serem tomados sempre através do coletivo e a construção de seus paradigmas sempre abrangendo a igualdade, a qualidade, a gestão democrática, a liberdade e a valorização do ensino.

É neste momento coletivo que são realizados um conjunto de decisões e ações que constroem a identidade da disciplina/ aula e a organização do trabalho pedagógico a ser realizado – o que contempla:

- Perfil do aluno a ser formado (seus conhecimentos/ habilidades/ valores).

- Objetivos e prioridades para o trabalho dos formadores.

- Seleção e sequência dos conteúdos (sempre considerando a organização estrutural do ambiente de trabalho e a realidade social em que os alunos estão inseridos).

É notório ressaltar que estas ações só produzem resultados quando o conceito ESCOLA esta diretamente sincronizado e motivado para esses fins, ou seja, é neste conceito em que podemos afirmar que a equipe diretiva e de coordenação possuem um papel significativo neste processo, pois suas orientações/ ações devem se caracterizar como elementos integradores entre o corpo docente estimulando decisões coletivas, convencendo os professores de sua importância na construção do Projeto Pedagógico da Escola alem de criar condições/ situações de reflexão/ discussão sobre o trabalho a ser realizado.

No quesito sincronia podemos dizer com certeza que ainda não avançamos e (já) corremos o risco de distanciar ainda mais as relações de trabalho coletivo, de coordenação e da construção dos interesses da Escola.

Não devemos esquecer que os órgãos executivos ligados à Educação (como secretarias, delegacias de ensino, prefeituras, estados entre outros) não devem se abster de suas responsabilidades previstas na Constituição oferecendo condições, estruturas e mecanismos para otimizar o trabalho dos formadores e da Escola.

Cabe aqui uma pergunta pertinente:

Como é possível planejar e construir elementos educacionais para nossos alunos se dispomos de maneira muito problemática/ precária/ insuficiente (ou nenhuma) de estrutura e condições para o desenvolvimento de nosso trabalho?

Reduzo aqui apenas a problemática para os professores de Educação Física (alvo deste estudo) quando não possuímos estrutura física para a condução de nossas aulas:

- falta de quadras ou espaços recreativos;

- Falta de materiais pedagógicos e educativos;

- Horários inadequados para o trabalho;

- Superlotação de alunos entre outros.

Em minha experiência como professor, vivencio diariamente várias destas problemáticas, no qual destaco para a superlotação de alunos em minhas aulas. Minha Unidade escolar em que trabalho sofreu há alguns anos um aumento expressivo de alunos, onde sua capacidade foi dobrada de um ano para outro (de 600 foram para 1100).

O que acontece quando uma Escola dobra sua capacidade e possui apenas uma quadra para trabalhar com seus alunos?

Certamente teremos professores trabalhando juntos em boa parte da semana. E quando são três professores? Quem sabe quatro? Temos dias em que trabalhamos com até 85 crianças em apenas uma quadra.

Como lidamos com isso? Primeiramente eu e meus colegas de profissão procuramos otimizar nossas escala de trabalho para que todos possam usufruir da quadra livre para suas turmas ao menos uma vez por semana. Entretanto nem sempre isso é possível, pois não é recomendado desenvolver atividades com turmas que apresentem expressivas diferenças de idade (por exemplo, um professor trabalhando com o 1º. ano e outro com o 8º. ano) tornando ainda mais complexo e carregado as condições de trabalho.

Como resolvemos esta questão? Improvisando? Melhor dizendo, é possível planejar e construir um projeto sério e coerente com estas problemáticas?

Certamente a palavra improviso é algo muito usual quando relacionamos aulas de Educação Física com essas dificuldades.

Dificuldade essa que se torna ainda maior quando não possuímos respaldo ou mesmo empenho de nossos representantes e superiores para a solução ou atenuação desses problemas.

E mais uma vez, o professor segue em frente em sua cruzada (e fogo cruzado de seus críticos e especialistas) sem avistar um horizonte que lhe traga disposição para seu trabalho.

Mas se quisermos esquecer todos esses imbróglios e temeridades, e seguir em frente para construção de um Projeto Pedagógico sério de Educação Física, é essencial a inserção de alguns elementos:



CONCEPÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA

Que pensam os professores que serão responsáveis pelas aulas de Educação Física na Escola?

Discutir, reunir e compartilhar experiências com seus colegas de profissão é fundamental para criar e estreitar laços de trabalho, otimizando e possibilitando aulas mais ajustadas e congruentes. Entre algumas questões-chave para tomada de decisões com os professores podemos destacar:


1) Qual é o eixo ou idéia básica norteadora da formação em Educação Física nas Escolas?

2) Como deverá se dar a aprendizagem da Educação Física pelos alunos em formação na Escola?

3) Quais aprendizagens serão essenciais nas aulas de Educação Física?


OBJETIVOS/ PRIORIDADES

Qual a ênfase a ser dada pelo corpo docente em suas aulas, em cada ciclo/ núcleo/ ano?

Definir o que é recomendado/ relevante para cada faixa de idade ou de ciclo é algo a ser desenvolvido através do coletivo, evitando a repetição e sobreposição de conteúdos e temas a serem trabalhados.


PERFIL DOS ALUNOS

Quantos e quais são os alunos?

Quais suas características básicas?

Quais suas expectativas em relação às aulas de Educação Física?


A EDUCAÇÃO FÍSICA COMO COMPONENTE CURRICULAR DA ESCOLA

Quais os temas e atividades a serem desenvolvidas nas aulas?

Quais as atividades complementares?

Projetos específicos da Educação Física e em parceria com outras áreas (atividades multidisciplinares)?

Definir a Divisão/ distribuição de tempo/ carga horária ao longo do semestre.


Contudo, pensar na Educação Física como componente curricular obrigatório e indispensável à formação dos alunos implica pensar em:

Todos os conhecimentos e conteúdos a serem trabalhados nas aulas de Educação Física devem estar previstos nos objetivos do Projeto Pedagógico.

As perguntas: Por quê? Para que? O que ensinar e aprender nas aulas de Educação Física? devem se basear como elementos norteadores da construção dos conhecimentos.

Organizar e estabelecer atividades/ meios/ recursos/ materiais/ procedimentos para que o trabalho de ensino se efetive de forma integral e não improvisada.

Estreitar e fomentar os processos de interação: professor-professor, professor-aluno, aluno-aluno, aluno-conhecimento, professor-conhecimento.

Otimizar a divisão do tempo escolar: carga-horária/ calendário/ início, término, interrupções dos trabalhos letivos/ administração e controle dos horários de aula.

Desenvolver procedimentos/ atividades/ recursos/ materiais para o processo de avaliação: dos objetivos, metas e resultados alcançados.

E por fim, fortalecer as palavras como e o que foi efetivamente ensinado e aprendido pelos alunos nas aulas de Educação Física sempre será o desafio a ser alcançado por nós professores. Compreender o processo de ensino-aprendizagem e permitir a avaliação de seus resultados e dificuldades torna o professor um eterno estrategista, aquele que pode até não enxergar o horizonte, mas sabe que ele existe e nunca desistirá de alcançá-lo.



REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

VEIGA, Ilma Passos Alencastro. Projeto político-pedagógico da Escola: uma construção coletiva. In: Ciclo de Conferências da Constituinte Escolar – Caderno Temático n.4: Projeto político-pedagógico. Belo Horizonte-M.G.: secretaria Municipal de Educação, junho/2000, p. 7-16

MARIZ DE OLIVEIRA, José Guilmar. Da Educação Física a Cinesiologia Humana. In: Seminário de políticas Públicas para a Educação Física Escolar. São Paulo, SP: Assembléia Legislativa de São Paulo., 2006, p. 5-20

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

"FESSOR"... O QUE VAI TER DE FÍSICA?

"FESSOR"... O QUE VAI TER DE FÍSICA?

Por: José Claudio Höfling Filho

Isto pode parecer estranho para algumas pessoas, mas tenho a convicção de que esta frase é deflagrada diariamente para milhares de professores de Educação Física em suas Escolas por seus alunos.

A frase "Fessor" (entende-se professor)... o que vai ter de física? (entende-se o que teremos - de conteúdo - na aula de Educação Física?) é um retrato cotidiano nas Escolas do Brasil. Muitos alunos empolgados, felizes e assim por dizer, aliviados com o término de suas aulas regulares e o início da aula de Educação Física se pegam a dizer esta frase com todo o entusiasmo e alegria que uma criança pode ter.

Esse é um reflexo marcante (e também preocupante) da capacidade que a disciplina de Educação Física possui em criar expectativas prazerosas, de possibilitar ao aluno a chance de construir algo novo, algo vitorioso, algo memorável naquele dia.

O fracasso é algo comum em uma sala de aula. Inúmeras vezes alunos fracassam na sala de aula de diversas maneiras, seja na tentativa de realizar uma atividade, no desenvolver de sua leitura de forma adequada ou simplesmente na construção de suas relações pessoais (aluno – professor/ aluno – aluno) de forma harmoniosa.

Encerrar o dia de aula e criar um sentimento de algo cumprido, algo que era tangível e foi preenchido e conquistado é um desafio sem tamanho para um aluno.

SENTIMENTOS E MEMÓRIAS COMO ESSAS SÃO POSSÍVEIS DE SE CONSTRUIR EM UMA AULA DE EDUCAÇÃO FÍSICA?

Possibilitar ao aluno a conquista de um desafio, fomentar e fortalecer suas relações pessoais com os demais alunos, corresponder as suas expectativas e proporcionar o acesso ao conhecimento são objetivos a serem alcançados pelo Professor de Educação Física em suas aulas, ou melhor, são objetivos tangíveis?

A primeira impressão que pode passar na cabeça do professor quando se depara com esta frase é de que o aluno não esta interessado no conteúdo a ser desenvolvido em sua aula, mas sim se a atividade a ser trabalhada corresponde as suas expectativas, ou seja, se o professor disser/propuser um conteúdo que não lhe agrade, certamente sua exaltação será refreada.

Cabe aqui uma pergunta bem humorada: será que esse mesmo aluno ao chegar à sala de aula, fará a mesma pergunta para sua professora? “Fessora”... o que vai ter de Matemática (Português, Ciências, História entre outros).

Para você Professor de Educação Física, desafio realizar este tipo de indagação para seu aluno de maneira bem espirituosa (ou seja, inverta essa situação de frase para outra disciplina). Você ira se surpreender com seus alunos.

MAS COMO ESTE TIPO DE COMPORTAMENTO TORNOU-SE COMUM NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA?


Creio que a primeira conjuntura de evidências pode ser fundamentada na qualidade do currículo desenvolvido pelos profissionais de Educação Física. O empobrecimento de conteúdos, a falta de planejamento e principalmente a qualidade de construção de aulas e atividades por parte de nossos profissionais certamente contribuem para esse resultado.

Boa parte desse saldo que nos é apresentado se deve ao fato da marginalização da Educação Física no Escopo Escolar. Nos PCNs (1997) uma frase corrobora com essa discussão.

“Outra situação em que essa marginalidade se manifesta é no momento de planejamento, discussão e avaliação do trabalho, no qual raramente a Educação Física é integrada. Muitas vezes o professor acaba por se convencer da pequena importância de seu trabalho, distanciando-se da equipe pedagógica, trabalhando isoladamente.” (PCN’s, 1997)

Decididamente essa constatação é contemporânea e muito bem conservada para os debates nas esferas da Educação Física Escolar. Quantos de nossos profissionais nunca ou raramente se sentaram em Reuniões de Conselho, de planejamento ou de professores (para o desenvolvimento de atividades multidisciplinares) ou para construção de suas atividades e conteúdos. Abro espaço aqui para uma experiência vivida em minha profissão como Professor de Educação Física que reflete bem o que estamos vivenciando.

Já participei de várias reuniões de Conselho em que foram debatidas e explanadas as relações de disciplina/faltas e suas consequências nas avaliações. Infelizmente a Educação Física parece não ser relevante para este tipo de discussão e muito menos oportuna para ser incluída nesses documentos e resultados (embora apresentemos inquietantes problemas de faltas/evasão em nossa disciplina, mas essa é uma questão que deixo para discussão em uma próxima oportunidade).

O que podemos dizer disso? Reducionismo ou desqualificação de nossa categoria por parte de outros profissionais da Escola ou desinteresse de fortalecer e prestigiar nossa disciplina por parte de nossos profissionais?


Certamente esse “apequenamento” da importância da Educação Física na Escola é sustentada (de forma inconsciente ou por conveniência) por parte de muitos profissionais de nossa área. “Mexer no que esta quieto, fácil e bom” (pelo menos para estes profissionais) é um reducionismo profissional sem precedentes e põe em risco a credibilidade e sustentabilidade da disciplina para o presente e o futuro.

Este pensamento também é defendido por diversos profissionais no qual destaco a Profª Luciane Sanchotene Etchepare (2005) que salienta a falta de comprometimento do professor de Educação Física para a valorização de sua profissão:

“Atualmente vemos uma grande desvalorização da Educação Física na escola, além de pouco comprometimento por parte de professores em tornarem suas aulas atrativas, motivantes e principalmente importantes para a vida do aluno. Muitos daqueles que não freqüentam as aulas de educação física na escola, freqüentam academias e clubes pagos, não se enquadrando como sedentários, mas somando-se aos que estão descontentes com o ensino da escola por parte dos profissionais que ministram essas aulas.

A frase “soltar a bola para que os alunos se divirtam” muito difundida (proposital e erroneamente) por inúmeros profissionais de outras áreas (e porque não os nossos?) não é só uma resposta muito menos um desconhecimento da Concepção da Educação Física por parte deles, mas um alerta para o futuro de nossa profissão.

A mudança do comportamento profissional, das nossas ações e atuações na Escola passa por um entendimento do que é EDUCAÇÃO FÍSICA e qual sua concepção nos dias de hoje. Sua relevância deve estar sempre voltada para necessidades dos alunos, através da contemplação de múltiplos conhecimentos e do oferecimento de situações e instrumentos que possibilitem sua crítica, construção e reconstrução.

Referências Bibliográficas:

Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Educação física /Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1997.96p.

Educação física, vida e currículo. Profª Luciane Sanchotene Etchepare, Profº Érico Felden Pereira, Profª Clarissa Stefani Teixeira. Revista Digital - Buenos Aires - Ano 10 - N° 87 - Agosto de 2005. http://www.efdeportes.com/efd87/efcur.htm



domingo, 6 de setembro de 2009

EDITORIAL





Olá a Todos!
Este Blog foi criado com a finalidade de oferecer aos profissionais da Educação Física assim como a comunidade virtual, um meio de comunicação e espaço para debates, opiniões e a construção de conhecimentos relacionados aos temas emergentes da Educação Física e suas interfaces.
Pensei muito sobre a possibilidade de entregar a este Blog uma dedicação satisfatória, visto que minhas obrigações profissionais e meu filho (de quase dois anos) tornan-se "obstáculos" essenciais e por assim dizer, importantes em minha vida. Mas acredito que um bom desafio é sempre bem vindo e que este Blog será uma experiência proveitosa e enriquecedora para mim (espero também que seja para meus futuros leitores).
Tenho desde 96 (quando ingressei em minha Universidade) vivido intensamente a Educação Física. De opiniões, pesquisas, conversas, reflexões, críticas, críticas e mais críticas sobre suas diversas áreas, hoje estou convencido que possuo ferramentas e disposição profissional para acrescentar discussões e junto com meus futuros leitores, fomentar a construção de conhecimentos e saberes relacionados á Educação Física e suas interfaces.

Aproveito a oportunidade para dizer que espero de minha comunidade uma busca constante e investigativa de informações, onde a troca de experiências e de opiniões se constituirá como paradigma para este BLOG, baseado no modelo democrático de idéias e expressões.


Sejam Bem Vindos!