"FESSOR"... O QUE VAI TER DE FÍSICA?
Por: José Claudio Höfling Filho
Isto pode parecer estranho para algumas pessoas, mas tenho a convicção de que esta frase é deflagrada diariamente para milhares de professores de Educação Física em suas Escolas por seus alunos.
A frase "Fessor" (entende-se professor)... o que vai ter de física? (entende-se o que teremos - de conteúdo - na aula de Educação Física?) é um retrato cotidiano nas Escolas do Brasil. Muitos alunos empolgados, felizes e assim por dizer, aliviados com o término de suas aulas regulares e o início da aula de Educação Física se pegam a dizer esta frase com todo o entusiasmo e alegria que uma criança pode ter.
Esse é um reflexo marcante (e também preocupante) da capacidade que a disciplina de Educação Física possui em criar expectativas prazerosas, de possibilitar ao aluno a chance de construir algo novo, algo vitorioso, algo memorável naquele dia.
O fracasso é algo comum em uma sala de aula. Inúmeras vezes alunos fracassam na sala de aula de diversas maneiras, seja na tentativa de realizar uma atividade, no desenvolver de sua leitura de forma adequada ou simplesmente na construção de suas relações pessoais (aluno – professor/ aluno – aluno) de forma harmoniosa.
Encerrar o dia de aula e criar um sentimento de algo cumprido, algo que era tangível e foi preenchido e conquistado é um desafio sem tamanho para um aluno.
SENTIMENTOS E MEMÓRIAS COMO ESSAS SÃO POSSÍVEIS DE SE CONSTRUIR EM UMA AULA DE EDUCAÇÃO FÍSICA?
Possibilitar ao aluno a conquista de um desafio, fomentar e fortalecer suas relações pessoais com os demais alunos, corresponder as suas expectativas e proporcionar o acesso ao conhecimento são objetivos a serem alcançados pelo Professor de Educação Física em suas aulas, ou melhor, são objetivos tangíveis?
A primeira impressão que pode passar na cabeça do professor quando se depara com esta frase é de que o aluno não esta interessado no conteúdo a ser desenvolvido em sua aula, mas sim se a atividade a ser trabalhada corresponde as suas expectativas, ou seja, se o professor disser/propuser um conteúdo que não lhe agrade, certamente sua exaltação será refreada.
Cabe aqui uma pergunta bem humorada: será que esse mesmo aluno ao chegar à sala de aula, fará a mesma pergunta para sua professora? “Fessora”... o que vai ter de Matemática (Português, Ciências, História entre outros).
Para você Professor de Educação Física, desafio realizar este tipo de indagação para seu aluno de maneira bem espirituosa (ou seja, inverta essa situação de frase para outra disciplina). Você ira se surpreender com seus alunos.
MAS COMO ESTE TIPO DE COMPORTAMENTO TORNOU-SE COMUM NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA?
Creio que a primeira conjuntura de evidências pode ser fundamentada na qualidade do currículo desenvolvido pelos profissionais de Educação Física. O empobrecimento de conteúdos, a falta de planejamento e principalmente a qualidade de construção de aulas e atividades por parte de nossos profissionais certamente contribuem para esse resultado.
Boa parte desse saldo que nos é apresentado se deve ao fato da marginalização da Educação Física no Escopo Escolar. Nos PCNs (1997) uma frase corrobora com essa discussão.
“Outra situação em que essa marginalidade se manifesta é no momento de planejamento, discussão e avaliação do trabalho, no qual raramente a Educação Física é integrada. Muitas vezes o professor acaba por se convencer da pequena importância de seu trabalho, distanciando-se da equipe pedagógica, trabalhando isoladamente.” (PCN’s, 1997)
Decididamente essa constatação é contemporânea e muito bem conservada para os debates nas esferas da Educação Física Escolar. Quantos de nossos profissionais nunca ou raramente se sentaram em Reuniões de Conselho, de planejamento ou de professores (para o desenvolvimento de atividades multidisciplinares) ou para construção de suas atividades e conteúdos. Abro espaço aqui para uma experiência vivida em minha profissão como Professor de Educação Física que reflete bem o que estamos vivenciando.
Já participei de várias reuniões de Conselho em que foram debatidas e explanadas as relações de disciplina/faltas e suas consequências nas avaliações. Infelizmente a Educação Física parece não ser relevante para este tipo de discussão e muito menos oportuna para ser incluída nesses documentos e resultados (embora apresentemos inquietantes problemas de faltas/evasão em nossa disciplina, mas essa é uma questão que deixo para discussão em uma próxima oportunidade).
O que podemos dizer disso? Reducionismo ou desqualificação de nossa categoria por parte de outros profissionais da Escola ou desinteresse de fortalecer e prestigiar nossa disciplina por parte de nossos profissionais?
Certamente esse “apequenamento” da importância da Educação Física na Escola é sustentada (de forma inconsciente ou por conveniência) por parte de muitos profissionais de nossa área. “Mexer no que esta quieto, fácil e bom” (pelo menos para estes profissionais) é um reducionismo profissional sem precedentes e põe em risco a credibilidade e sustentabilidade da disciplina para o presente e o futuro.
Este pensamento também é defendido por diversos profissionais no qual destaco a Profª Luciane Sanchotene Etchepare (2005) que salienta a falta de comprometimento do professor de Educação Física para a valorização de sua profissão:
“Atualmente vemos uma grande desvalorização da Educação Física na escola, além de pouco comprometimento por parte de professores em tornarem suas aulas atrativas, motivantes e principalmente importantes para a vida do aluno. Muitos daqueles que não freqüentam as aulas de educação física na escola, freqüentam academias e clubes pagos, não se enquadrando como sedentários, mas somando-se aos que estão descontentes com o ensino da escola por parte dos profissionais que ministram essas aulas.
A frase “soltar a bola para que os alunos se divirtam” muito difundida (proposital e erroneamente) por inúmeros profissionais de outras áreas (e porque não os nossos?) não é só uma resposta muito menos um desconhecimento da Concepção da Educação Física por parte deles, mas um alerta para o futuro de nossa profissão.
A mudança do comportamento profissional, das nossas ações e atuações na Escola passa por um entendimento do que é EDUCAÇÃO FÍSICA e qual sua concepção nos dias de hoje. Sua relevância deve estar sempre voltada para necessidades dos alunos, através da contemplação de múltiplos conhecimentos e do oferecimento de situações e instrumentos que possibilitem sua crítica, construção e reconstrução.
Referências Bibliográficas:
Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Educação física /Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1997.96p.
Educação física, vida e currículo. Profª Luciane Sanchotene Etchepare, Profº Érico Felden Pereira, Profª Clarissa Stefani Teixeira. Revista Digital - Buenos Aires - Ano 10 - N° 87 - Agosto de 2005. http://www.efdeportes.com/efd87/efcur.htm
Olá José Cláudio, sua reflexão é importante para que o profissional possa compreender a importância de se auto-valorizar profissionalmente, para que a sociedade possa compreender também seu valor. Se conseguirmos compreender como nossa profissão é importante, já que lida com a prevenção, com a manutenção da saúde e que de nós depende, inclusive, o que as pessoas vão levar como elementos para a vida, talvez conseguíssemos nos valorizar mais e aprofundar o respeito que merecemos profissionalmente. Depende muito de nós mesmos, de nosso valores e atitudes. Portanto, repensem o papel desse profissional na vida social e vamos pensar juntos, como poderemos fazer a diferença. Um abraço - Profa. Dra. Gisele Maria Schwartz - LEL-LABORATÓRIO DE ESTUDOS DO LAZER, DEF/IB/UNESP- Campus de Rio Claro.
ResponderExcluirObrigado por estar aqui Profa. Gisele.
ResponderExcluirÉ muito importante sua contribuição aqui no Blog e tenho certeza de que nossas ações como profissionais, como professores refletem e permeiam a construção e reconstrução de uma Educação Física ativa, reflexiva e transformadora, seja em uma quadra, em uma sala de aula ou mesmo em um ambiente virtual.