terça-feira, 15 de setembro de 2009

REFLEXÕES SOBRE A CONSTRUÇÃO DE UM PROJETO PEDAGÓGICO PARA EDUCAÇÃO FÍSICA



Você leitor (que possui alguma experiência com computadores), conhece o velho (e atualíssimo) processo do “recorta – e – cola” nos produtores de texto? Pois acredite, esse procedimento é usado indiscriminadamente por inúmeros profissionais da Educação (neste caso em destaque, os de Educação Física) com a finalidade de construir e desenvolver de projetos, planejamentos e concepções de trabalhos voltados para a área da Educação Física, lazer e Esporte.


Através da internet e do acesso à informação em diversos meios de comunicação, a utilização indevida, desprovida e inconseqüente de artigos, textos e trabalhos é cada vez maior e consequentemente, seu uso racional ou acadêmico fica cada vez prejudicado quando observamos em nosso meio profissional, plágios, cópias e imitações sofríveis.

Já perdi a conta das vezes em que participei de reuniões em instituições esportivas, grêmios recreativos e esportivos, fundações municipais de esporte e lazer que iniciam suas reuniões com a seguinte frase: “Bom pessoal, gostaria de agradecer a presença de todos e vamos dar início a aprovação do projeto (de sortidos temas) e caso alguém discorde, favor manifestar o descontentamento”.


Aprovação? Quem irá ler isto? Para quem este projeto será destinado? Porque convidam as pessoas para fazer observações (que dificilmente serão ouvidas e inseridas no projeto) sendo que poderiam ter se sentado com elas inicialmente, trabalhado e discutido juntos?

Isso quando esses profissionais (do Esporte?) iniciam os projetos com a seguinte definição: “...o objetivo deste projeto é promover a inclusão esportiva...” A indiscriminada e oportuna utilização da palavra INCLUSÃO (nobilíssima alias, visto sua importância no escopo da Educação nos dias de hoje) é algo que chama a atenção para a criação reducionista e por assim dizer, sofrível desses profissionais nas diversas esferas da Educação Física.

Aproveito a oportunidade para salientar uma posição que defendo (e muitos profissionais também) quando nos referimos e relacionamos a Educação Física X Esporte e que são enfatizadas de forma clara e racional nas palavras do Professor Dr. José Guilmar Mariz de Oliveira (2006):


“... é necessário enfatizar, nesta oportunidade, que Educação Física não é necessariamente sinônimo de Esporte, caracterizando-se ambos como áreas, ou fenômenos distintos, e com objetivos diferentes.”


Nas aulas de Educação Física as alunas/ os alunos não praticam esporte. Nas aulas de Educação Física as alunas/ os alunos ESTUDAM, teórica e praticamente, o MOVIMENTAR-SE, considerado como uma característica essencial do ser humano.”


A importância do tema ESPORTE não se dá só na Educação Física, mas nas demais disciplinas. Negar sua importância (visivelmente traduzida em sua força e manifestação na sociedade) ou mesmo omitir sua relevância para os variados temas e situações em que ela esta inserida (economia, história, biologia, geografia, política, áreas das ciências sociais entre outras) é perder a oportunidade de empregar uma instituição inegável de informações para o desenvolvimento e enriquecimento cultural e acadêmico de nossos alunos.


Entretanto, mais importante do que temas e conteúdos a serem utilizados em uma aula de Educação Física, o planejamento e a construção de um PROJETO PEDAGÓGICO coerente e tangível (tanto para o professor quanto para o aluno) são considerados chaves para o sucesso na formação de uma proposta educacional/ pedagógica séria e coerente.

MAS O QUE É PROJETO PEDAGÓGICO?

PROJETU = do latim: particípio passado do verbo: PROJICERE = lançar à frente/ projetar/ (pré)ver os resultados de uma ação/ antecipar o futuro.

É o projeto pedagógico que possui como intuito nortear direções/ rumos e caminhos a serem percorridos, além de contemplar qual tipo de aluno a ser formado. Entre suas principais qualidades podemos destacar a contemplação das decisões e objetivos a serem tomados sempre através do coletivo e a construção de seus paradigmas sempre abrangendo a igualdade, a qualidade, a gestão democrática, a liberdade e a valorização do ensino.

É neste momento coletivo que são realizados um conjunto de decisões e ações que constroem a identidade da disciplina/ aula e a organização do trabalho pedagógico a ser realizado – o que contempla:

- Perfil do aluno a ser formado (seus conhecimentos/ habilidades/ valores).

- Objetivos e prioridades para o trabalho dos formadores.

- Seleção e sequência dos conteúdos (sempre considerando a organização estrutural do ambiente de trabalho e a realidade social em que os alunos estão inseridos).

É notório ressaltar que estas ações só produzem resultados quando o conceito ESCOLA esta diretamente sincronizado e motivado para esses fins, ou seja, é neste conceito em que podemos afirmar que a equipe diretiva e de coordenação possuem um papel significativo neste processo, pois suas orientações/ ações devem se caracterizar como elementos integradores entre o corpo docente estimulando decisões coletivas, convencendo os professores de sua importância na construção do Projeto Pedagógico da Escola alem de criar condições/ situações de reflexão/ discussão sobre o trabalho a ser realizado.

No quesito sincronia podemos dizer com certeza que ainda não avançamos e (já) corremos o risco de distanciar ainda mais as relações de trabalho coletivo, de coordenação e da construção dos interesses da Escola.

Não devemos esquecer que os órgãos executivos ligados à Educação (como secretarias, delegacias de ensino, prefeituras, estados entre outros) não devem se abster de suas responsabilidades previstas na Constituição oferecendo condições, estruturas e mecanismos para otimizar o trabalho dos formadores e da Escola.

Cabe aqui uma pergunta pertinente:

Como é possível planejar e construir elementos educacionais para nossos alunos se dispomos de maneira muito problemática/ precária/ insuficiente (ou nenhuma) de estrutura e condições para o desenvolvimento de nosso trabalho?

Reduzo aqui apenas a problemática para os professores de Educação Física (alvo deste estudo) quando não possuímos estrutura física para a condução de nossas aulas:

- falta de quadras ou espaços recreativos;

- Falta de materiais pedagógicos e educativos;

- Horários inadequados para o trabalho;

- Superlotação de alunos entre outros.

Em minha experiência como professor, vivencio diariamente várias destas problemáticas, no qual destaco para a superlotação de alunos em minhas aulas. Minha Unidade escolar em que trabalho sofreu há alguns anos um aumento expressivo de alunos, onde sua capacidade foi dobrada de um ano para outro (de 600 foram para 1100).

O que acontece quando uma Escola dobra sua capacidade e possui apenas uma quadra para trabalhar com seus alunos?

Certamente teremos professores trabalhando juntos em boa parte da semana. E quando são três professores? Quem sabe quatro? Temos dias em que trabalhamos com até 85 crianças em apenas uma quadra.

Como lidamos com isso? Primeiramente eu e meus colegas de profissão procuramos otimizar nossas escala de trabalho para que todos possam usufruir da quadra livre para suas turmas ao menos uma vez por semana. Entretanto nem sempre isso é possível, pois não é recomendado desenvolver atividades com turmas que apresentem expressivas diferenças de idade (por exemplo, um professor trabalhando com o 1º. ano e outro com o 8º. ano) tornando ainda mais complexo e carregado as condições de trabalho.

Como resolvemos esta questão? Improvisando? Melhor dizendo, é possível planejar e construir um projeto sério e coerente com estas problemáticas?

Certamente a palavra improviso é algo muito usual quando relacionamos aulas de Educação Física com essas dificuldades.

Dificuldade essa que se torna ainda maior quando não possuímos respaldo ou mesmo empenho de nossos representantes e superiores para a solução ou atenuação desses problemas.

E mais uma vez, o professor segue em frente em sua cruzada (e fogo cruzado de seus críticos e especialistas) sem avistar um horizonte que lhe traga disposição para seu trabalho.

Mas se quisermos esquecer todos esses imbróglios e temeridades, e seguir em frente para construção de um Projeto Pedagógico sério de Educação Física, é essencial a inserção de alguns elementos:



CONCEPÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA

Que pensam os professores que serão responsáveis pelas aulas de Educação Física na Escola?

Discutir, reunir e compartilhar experiências com seus colegas de profissão é fundamental para criar e estreitar laços de trabalho, otimizando e possibilitando aulas mais ajustadas e congruentes. Entre algumas questões-chave para tomada de decisões com os professores podemos destacar:


1) Qual é o eixo ou idéia básica norteadora da formação em Educação Física nas Escolas?

2) Como deverá se dar a aprendizagem da Educação Física pelos alunos em formação na Escola?

3) Quais aprendizagens serão essenciais nas aulas de Educação Física?


OBJETIVOS/ PRIORIDADES

Qual a ênfase a ser dada pelo corpo docente em suas aulas, em cada ciclo/ núcleo/ ano?

Definir o que é recomendado/ relevante para cada faixa de idade ou de ciclo é algo a ser desenvolvido através do coletivo, evitando a repetição e sobreposição de conteúdos e temas a serem trabalhados.


PERFIL DOS ALUNOS

Quantos e quais são os alunos?

Quais suas características básicas?

Quais suas expectativas em relação às aulas de Educação Física?


A EDUCAÇÃO FÍSICA COMO COMPONENTE CURRICULAR DA ESCOLA

Quais os temas e atividades a serem desenvolvidas nas aulas?

Quais as atividades complementares?

Projetos específicos da Educação Física e em parceria com outras áreas (atividades multidisciplinares)?

Definir a Divisão/ distribuição de tempo/ carga horária ao longo do semestre.


Contudo, pensar na Educação Física como componente curricular obrigatório e indispensável à formação dos alunos implica pensar em:

Todos os conhecimentos e conteúdos a serem trabalhados nas aulas de Educação Física devem estar previstos nos objetivos do Projeto Pedagógico.

As perguntas: Por quê? Para que? O que ensinar e aprender nas aulas de Educação Física? devem se basear como elementos norteadores da construção dos conhecimentos.

Organizar e estabelecer atividades/ meios/ recursos/ materiais/ procedimentos para que o trabalho de ensino se efetive de forma integral e não improvisada.

Estreitar e fomentar os processos de interação: professor-professor, professor-aluno, aluno-aluno, aluno-conhecimento, professor-conhecimento.

Otimizar a divisão do tempo escolar: carga-horária/ calendário/ início, término, interrupções dos trabalhos letivos/ administração e controle dos horários de aula.

Desenvolver procedimentos/ atividades/ recursos/ materiais para o processo de avaliação: dos objetivos, metas e resultados alcançados.

E por fim, fortalecer as palavras como e o que foi efetivamente ensinado e aprendido pelos alunos nas aulas de Educação Física sempre será o desafio a ser alcançado por nós professores. Compreender o processo de ensino-aprendizagem e permitir a avaliação de seus resultados e dificuldades torna o professor um eterno estrategista, aquele que pode até não enxergar o horizonte, mas sabe que ele existe e nunca desistirá de alcançá-lo.



REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

VEIGA, Ilma Passos Alencastro. Projeto político-pedagógico da Escola: uma construção coletiva. In: Ciclo de Conferências da Constituinte Escolar – Caderno Temático n.4: Projeto político-pedagógico. Belo Horizonte-M.G.: secretaria Municipal de Educação, junho/2000, p. 7-16

MARIZ DE OLIVEIRA, José Guilmar. Da Educação Física a Cinesiologia Humana. In: Seminário de políticas Públicas para a Educação Física Escolar. São Paulo, SP: Assembléia Legislativa de São Paulo., 2006, p. 5-20

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