PARA SE PRODUZIR BOAS SEQUENCIAS DIDÁTICAS
Por Adriano Vieira
A elaboração de sequências didáticas na concepção da metodologia dialógica – ação, reflexão, ação – tem como propósito desenvolver a condição de autoria do professor, de fortalecer sua autonomia, enquanto sujeito do processo.
Este é o momento de decisões a respeito do que e do como ensinar, ou seja, de selecionar conhecimentos considerados importantes, válidos ou essenciais para comporem o currículo de educação física e formas adequadas de desenvolvê-los para que ocorra a aprendizagem.
Para que essa produção siga na perspectiva da democratização da educação e da melhoria da qualidade de ensino, torna-se imprescindível que ela seja produto das reflexões e dos pactos coletivos estabelecidos na rede pública, no caso aqui, no programa EPV (estudar pra valer – parceria entre a Secretaria Municipal de Educação do Municipal de Araraquara com a Fundação Wolkswagen), uma vez que agora é hora de tomar decisões curriculares em relação aos conteúdos, às metodologias e às atividades de sala de aula, que deverão ser compatíveis com os referidos pactos.
A produção exige esforço. Demanda estudo, um processo de aprofundamento teórico e um exercício constante de compatibilização entre teoria e prática, conteúdo e forma, objetivos e propostas.
Essa é a hora em que o olhar do professor se volta, sobremaneira, para o aluno real e concreto e seu contexto. Assim, considera o aluno, com as peculiaridades de seu momento de vida, de sua forma de pensar e de seu universo cultural para que as situações de ensino e aprendizagem, em sala de aula, possam ser significativas e instigantes.
As SDs (sequências didáticas) se tornam subsídios de apoio pedagógico para auxiliar os professores em sala de aula. Estimulam os professores a criar boas situações de ensino e aprendizagem para a sala de aula, no contexto do EPV, a partir de seu repertório e de estudos e pesquisas sobre os conteúdos escolhidos;
Em relação aos conteúdos a serem abordados nesses subsídios devem privilegiar conteúdos que se referiam à cultura local e à cultura de Araraquara, além é claro, de propostas claras de trabalho com leitura e produção de textos.
O QUE SÃO SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS?
Várias são as fontes que tratam de sequências didáticas, mas nós, com base no dia a dia escolar, denominamos sequências didáticas como:
“Situações de ensino e aprendizagem planejadas, organizadas passo a passo, com o objetivo de promover uma aprendizagem definida. Constituem um conjunto de atividades sequenciadas com graus de dificuldade crescente para que os alunos possam, gradativamente, apropriarem-se de conhecimentos, atitudes e valores considerados fundamentais. As sequências didáticas não têm duração determinada, podendo ser planejadas para serem desenvolvidas em várias aulas e durar dias, semanas ou meses.”
SOBRE A ESTRUTURA DE UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA
As sequências didáticas, elaboradas no contexto do EPV, compõem-se dos seguintes momentos:
1 - Apresentação da proposta de trabalho;
2 - Levantamento dos conhecimentos prévios dos alunos;
3 - Ampliação dos conhecimentos;
4 - Sistematização dos conhecimentos e avaliação.
O trabalho inicia-se com o anúncio para os estudantes do que vai ser estudado. É o compartilhamento da proposta de trabalho com eles, dando-lhes uma visão geral do processo a ser desenvolvido e explicitando os pontos de chegada.
A seguir, faz-se o levantamento dos conhecimentos prévios dos alunos sobre o assunto a ser estudado. Isso significa investigar os conhecimentos que adquiriram em suas experiências anteriores, dentro e fora da escola, sobre o assunto. É importante conhecer o que já sabem a respeito do que vai ser estudado para relacionar esses conhecimentos, intencionalmente, ao que se quer ensinar. Para ativá-los, problematizam-se, de diversas formas, os temas em questão, propondo-se desafios para que ponham em jogo o que sabem. Esse momento pode ser desenvolvido por meio de rodas de conversa, leitura de imagens ou de textos escritos, resolução de problemas, debates, entre outras estratégias. É importante que professores e alunos registrem as concepções e hipóteses levantadas nesse momento para comparar com os novos conhecimentos, ao final do trabalho.
Sabendo o que os alunos já sabem sobre o conteúdo a ser trabalhado, o professor pode planejar de onde partir e o caminho que seguirá para que cheguem onde precisam chegar. É o momento de ampliar os conhecimentos dos alunos, torná-los mais complexos, por meio do estabelecimento de novas e várias relações, a partir de novas informações. Esse momento requer do professor segurança em relação ao conteúdo e às formas de desenvolvê-lo, considerando-se a heterogeneidade dos níveis de conhecimento e a faixa etária dos adolescentes e jovens. As atividades de ampliação devem propiciar “um mergulho” no tema, de formas variadas como pesquisas em livros, internet, projeção de vídeos ou filmes, realização de entrevistas, saídas em campo, leitura e produção de textos, que trabalhem as noções, conceitos, habilidades e valores desejados. O cuidado com o registro nesse momento é fundamental, pois, ele será a memória das aprendizagens realizadas nessa etapa.
A sistematização dos conhecimentos é o momento de retomar todo o percurso de aprendizagem feito, organizando-se as principais noções e conceitos trabalhados, por meio dos registros efetuados no processo, promovendo-se a apropriação das aprendizagens desenvolvidas pelos alunos e permitindo a professores e alunos uma visão geral do que foi feito, com os avanços e as dificuldades encontradas. É um momento de síntese e também de divulgação dos produtos finais.
É importante verificar que não há uma rigidez entre os diferentes momentos, cabendo, por exemplo, a sistematização, desde o início do levantamento dos conhecimentos prévios, quando se registram as concepções e hipóteses dos alunos a respeito do que vai ser estudado, ao mesmo tempo em que este momento pode servir também para ampliar os conhecimentos, na medida em que se conversa sobre o tema ou se vê um vídeo para problematizar o assunto. O que muda é o enfoque a ser dado a cada um deles.
Em relação ao processo de avaliação, cabe dizer que o mesmo acontece durante todo o percurso da sequência, desde seu início, quando se investigam os conhecimentos prévios dos estudantes, até a sistematização final. Por isso propõe-se que sejam realizados, constantemente, registros do professor e dos alunos sobre as aprendizagens realizadas, os avanços conquistados, as dificuldades enfrentadas, pois a marcha da aprendizagem deve definir a marcha do ensino, tendo como referencial as expectativas de aprendizagem apontadas nas matrizes curriculares. Pretende-se com isso que o estudante desenvolva um processo de auto-avaliação para que tome consciência do próprio processo de aprendizagem, desenvolvendo a sua autonomia intelectual.
Posto o que vem a ser uma sequência didática, aproveito e socializo, mais uma vez, a metodologia adotada na concepção do Estudar Pra Valer. Se tivermos isso claro, podemos criar bastante nas nossas SDs.
METODOLOGIA E ORGANIZAÇÃO DIDÁTICA
A metodologia aqui defendida é a dialógica ação-reflexão-ação (Ler Paulo Freire: Pedagogia do oprimido, em especial o capítulo 3):
- Todos os alunos participam, se envolvem e trazem para a reflexão seus conhecimentos, valores, indagações, sua cultura. Ninguém deve ficar de fora! O professor, por sua vez, se torna pesquisador, organizador, planejador dos assuntos específicos da área e, sobretudo, assume compromisso com a aprendizagem de todos os alunos;
- Os conteúdos devem ser problematizados e discutidos nas diferentes situações de ensino e aprendizagem, sempre em relação aos saberes próprios da Educação Física, da vida do aluno, da localidade e da realidade de modo geral;
- Em diferentes momentos os alunos lêem e produzem textos;
Para fins didáticos, priorizamos na metodologia alguns momentos que consideramos fundamentais, todos importantes e valiosos para a aprendizagem dos alunos:
1 - Apresentação do tema: problematização com os alunos / sensibilização para o assunto a ser abordado;
2 - Levantamento, sistematização e organização dos conhecimentos prévios e valores dos alunos em relação ao assunto a ser abordado. Esse é o momento de conversa para conhecer o que os alunos pensam ou já sabem sobre o tema a ser discutido. Nesse momento, trabalham-se a oralidade, a exposição oral de idéias e opiniões e o levantamento de hipóteses sobre o tema que será discutido. É sempre bom sistematizar os conhecimentos prévios dos alunos para que eles saibam o que sabem;
3 - Ampliação dos conhecimentos dos alunos por meio das atividades;
a) Hora de se mexer - realização de uma atividade da cultura da adolescência (jogos, danças, brincadeiras) para que todos os alunos se movimentem nas aulas, mobilizem seu repertório motório, descubram novas possibilidades de movimentação - sempre a luz da temática selecionada para reflexão. Aqui é importante selecionar atividades significativas na cultura dos alunos. É importante também adaptar as atividades para que todos possam participar.
b) Reflexão sobre a atividade realizada, com o foco na temática abordada e nos conhecimentos prévios dos alunos. Trata-se de outro momento de conversa com os alunos. Aqui são feitos questionamentos e problematizações, relacionam-se os movimentos realizados na vivência motória com a temática que está em discussão. Nesse momento você deve estimular os alunos a se colocarem diante do assunto, a se pronunciarem. É importante articular esse momento com a problemática que iniciou a aula e com a atividade motória executada, formulando questões sobre o que foi feito e sentido pelos alunos e sobre qual a relação entre o que foi aprendido e o dia-a-dia.
c) Sistematização, organização, expressão e registro dos pontos importantes levantados na reflexão. Ao final da reflexão, é importante direcionar um fechamento com base nas falas dos alunos, destacando os pontos importantes da conversa, os conceitos construídos e o objetivo da atividade. É o momento onde a construção do conhecimento pelo aluno deve ser evidenciada em sua realidade, em seus valores, costumes, hábitos e atitudes;
d) Leitura de diferentes gêneros textuais – verbal e não verbal - sobre o assunto abordado. Entendemos que esse é um momento essencial para que o aluno amplie seus conhecimentos e exercite a habilidade de interpretação de textos, ampliando também seu potencial para ler o mundo. Os alunos devem ser organizados individualmente ou em grupos de tamanho diverso, conforme o caso, para leitura de textos sobre o tema em pauta. É importante que os textos a serem trabalhados sejam de diferentes gêneros e que sejam expressos em diferentes linguagens. Esses textos podem ser extraídos de revistas, jornais, folhetos informativos etc.
e) Produção de textos para registro, sistematização, organização e ampliação dos saberes. É o momento de registrar o que foi aprendido, elaborar a síntese do que foi vivido na aula, produzir textos diversos, individualmente, em grupo ou em dupla, sobre os conhecimentos construídos em relação ao tema discutido. O registro proporciona um excelente instrumento de acompanhamento do processo de aprendizagem, permitindo conhecer as dificuldades dos alunos, e reorientar, se necessário, a organização geral das aulas. Um trabalho assim organizado facilita o processo de ensino- aprendizagem, tornando-o mais significativo, e permite que se respeitem os diferentes ritmos de aprendizagem dos alunos envolvidos, mas buscando promover o progresso de todos.
f) Avaliação: o registro escrito também é, para você professor(a), excelente instrumento para acompanhar o processo de aprendizagem dos alunos: permite identificar os pontos que não ficaram claros, para serem retomados, bem como os alunos que têm dificuldades, para orientações e intervenções que os ajudem a avançar, tanto na compreensão dos conceitos trabalhados quanto na escrita, isso para melhorar a clareza das idéias ou complementar as informações, quando necessário. Então, a análise de seus registros permite a você reorientar e ou reorganizar as aulas, com base nas informações sobre o desenvolvimento dos alunos em relação ao que foi trabalhado em aula; caso um grupo grande de alunos ou toda a classe apresente a mesma dificuldade, ou incompreensão do conceito trabalhado, você certamente irá refazer o planejamento da(s) aula(s). Assim, a avaliação em Educação Física, como nas demais áreas, está a serviço da aprendizagem do aluno: ocorre durante o desenvolvimento das atividades (é contínua), acompanhando a construção do conhecimento pelo aluno, a forma como ele compreende e resolve as situações que lhe são apresentadas (é processual), e visa regular o caminhar do ensino ao caminhar da aprendizagem (é diagnóstica), possibilitando a você, professor(a), intervir para ajudar o aluno a superar a dificuldade encontrada.
SÍNTESE DA ABORDAGEM METODOLÓGICA
O trabalho ora proposto exige metodologia dialógica: ação – reflexão –(transform) ação. Ação pedagógica que parta dos conhecimentos dos jovens, que explicite outras visões de mundo, mais organizadas e sistematizadas, que propicie experiências e socialização de experiências, que provoque discussões, materialize a produção do pensamento, promova a reflexão individual e coletiva, faça sínteses provisórias e apreciativas das discussões, realize produções que explicitem o processo de aprendizagem e o aprendido. A organização e seus princípios também fazem parte dessa metodologia. A organização proposta tem como diretrizes a participação, a solidariedade, a cooperação e o reconhecimento da individualidade de cada um.
Outro elemento constitutivo da metodologia adotada que merece destaque é a preocupação com o letramento, com a necessidade de se reservar espaços privilegiados para a leitura e a escrita, para a o exercício da oralidade e para o contato com outras linguagens - áudio-visual, cênica, musical, matemática – nas aulas. Nessa abordagem metodológica os alunos têm a oportunidade, além de se movimentar, de expressar seus conhecimentos, interagir com outros, discutir e refletir, tomar contato com as mais diversas linguagens, em especial com a leitura, a escrita e a oralidade.
Parabéns, você postou detalhadamente e de forma simplificada, atingido o público leigo e veterano no assunto. Seu blog está na minha página de favoritos. Continue esse profissional de responsabilidade que é digno de merecer a função de EDUCADOR FÍSICO.
ResponderExcluirObrigado por estar aqui...
ResponderExcluirAtenciosamente.
José Claudio Höfling Filho
Parabéns pela lucidez em explanar o assunto!!
ResponderExcluirParabéns pela lucidez em explanar o assunto!!
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