segunda-feira, 15 de novembro de 2010

INTERNET LIVRE OU CABRESTO ELETRÔNICO?

INTERNET LIVRE OU CABRESTO ELETRÔNICO?

Por José Claudio Höfling Filho


No início da década de 1990, quando eu era adolescente, lembro como se fosse hoje minha mãe presenteando a mim e minhas irmãs com nosso primeiro computador. Tenho certeza que esse acontecimento foi um divisor de águas em nossas vidas, tanto por ser algo inovador (pois era um recurso muito caro na época e continua sendo até hoje), quanto pela possibilidade de revelar novos horizontes para nosso o conhecimento, trabalho e lazer.

Embora a internet caminhasse a passos vagarosos naqueles tempos, foi o computador que nos possibilitou a realização de diversas atividades, entre elas as acadêmicas/escolares (na digitação de trabalhos, pesquisas, entre outros), de entretenimento (como jogos e brincadeiras virtuais) e, finalmente, o navegar pela internet, ou como se dizia na época, surfar pela rede.

Lembro que aguardava com entusiasmo o carregamento (downloading) da página da NBA só para ver as imagens do jogador Michael Jordan, astro de basquete da época da equipe Chicago Bulls. Coisas de garoto. Eram horas e horas a fio esperando para que as imagens fossem exibidas, mas a expectativa de descobrir algo novo, algo inédito era a energia que me nutria em cada momento que ficava em frente ao monitor do computador.

O tempo passou (que pena...) e crescemos. Em uma década observamos com espanto e euforia a revolução digital em nossa sociedade. Atualmente, essas ferramentas de comunicação e interatividade são decididamente elementos essenciais em nosso cotidiano. Computadores, celulares, laptops, sistemas de interatividade virtual, ferramentas acadêmicas como a EaD (Educação à Distância), sistemas HD (de alta definição de imagens), internet de alta velocidade, internet livre são sinônimos de sucesso, eficiência e congruência de saberes. Mas é a internet livre, definitivamente, que se caracteriza, em minha opinião, como uma verdadeira ferramenta democrática nos dias atuais, no acesso e na disseminação do conhecimento e da informação.

Quando adentrei na vida adulta, uma de minhas primeiras decisões profissionais foi a de me tornar professor. Devo admitir que minha família teve um papel determinante em minha escolha, pois passei toda minha infância e juventude em ambientes acadêmicos e escolares em função de meus pais serem professores.

Mas minha decisão de me tornar um professor baseou-se fundamentalmente em uma razão simples, mas nobre: a de transmitir conhecimento.

Creio que esta razão também pode ser aplicada à internet livre, pois ela parte do princípio paradigmático de que a transmissão/difusão do conhecimento é algo nobre, digno, democrático e que deve ser de direito de todos.

Mas, como professor, procurei compreender (e ainda procuro) o que a palavra livre significa para nossas vidas. Entre as várias vertentes desta palavra, associam-se outras como a liberdade: de expressão, da escravidão, de escolha, de arbítrio, de errar, de sonhar, de amar, democrática.

Mas uma frase que me chamou a atenção retrata como o livre-liberdade pode ser encarado em nossas vidas:

“A LIBERDADE NÃO TEM QUALQUER VALOR SE NÃO INCLUI A LIBERDADE DE ERRAR. ”
(Mahatma Gandhi – líder político e espiritual da Índia)

Em minha concepção, ser livre representa o ideal de fazer escolhas, de acertar e errar, e por meio dessa liberdade, permitir e garantir a reflexão sobre nossas ações afim de que possamos construir e reconstruir nosso presente e futuro.

Quando soube que a internet livre estaria disponível para os cidadãos de Araraquara fiquei muito feliz, por entender que essa iniciativa permitiria um avanço significativo no que diz respeito à democracia (social e virtual) e à comunicação para nossa cidade.

Como professor do Município de Araraquara, me amparei na expectativa de possibilitar e oferecer aos meus alunos, novas práticas pedagógicas e ferramentas educacionais por meio da internet e também em função da aquisição de novos computadores para a nossa escola (municipal). Essa novidade permitiria, a meu ver, um acesso mais rápido na conexão e abriria novas oportunidades para a utilização de atividades educacionais em rede e pesquisas escolares.

Perfeito! Porém, ao me sentar em frente ao computador da escola (conectado à internet livre) e realizar minha primeira pesquisa tive a primeira desilusão com a chamada democracia eletrônica: o site a ser visitado foi bloqueado pelo servidor eletrônico municipal. Surpreendi-me com o acontecimento e resolvi realizar uma pesquisa aleatória, usando como referência-chave, por exemplo, um blog (um diário online no qual você publica histórias, idéias ou imagens) de cunho educacional de uma colega de trabalho onde são apresentadas diversas atividades pedagógicas. Resultado: Bloqueado!

Nos vinte minutos que se passaram ao longo da pesquisa, meu entusiasmo foi reduzido à zero tamanha a quantidade de bloqueios e negações de acesso ao conteúdo.

Como algo que se denomina livre pode censurar e tolher a busca por informação, por conhecimento? Vale esclarecer, que as pesquisas realizadas por mim tinham como objetivo apenas obter informações educacionais em sites de pesquisa e blogs acadêmicos.

Gostaria também de deixar claro que, ferramentas virtuais de relacionamento/interatividade como Orkut, Facebook, Youtube, twitter, entre outros, que possuem seu apelo comunicativo e interativo (embora ainda mal explorados do ponto de visto educacional) e que são elementos cotidianos e amplamente acessados pela maioria dos navegadores virtuais, nem sequer foram possíveis de serem acessados.

Sinceramente, negar esses processos de relacionamento e de comunicação virtual é deixar de aproveitar uma inegável e rica oportunidade de construir e desenvolver elementos sócioeducativos para nossos alunos, nossa comunidade.

Mas meu objetivo por aqui não é fazer propaganda e promoção de sites e sim trazer uma questão de princípio: a da liberdade de escolha. É pertinente afirmar que a realidade demonstra que muitos usuários da internet ainda utilizam esse ambiente para fins obtusos e por assim dizer, nada nobres (como acessos a pornografia, materiais de cunho racista e de propagação de violência entre outros). No entanto, essa condição pode e deve ser transformada para que este tipo de ferramenta possa se tornar um instrumento para o conhecimento, para o progresso do ser humano. E nada mais conhecido e testado para essa transformação do que a EDUCAÇÃO.

É a educação que transforma, investiga, esclarece e repercute em nossas ações, nossas vidas. É através dela que o livre, a liberdade, a democracia tornam-se concepções fundamentais de nossas escolhas, de nossas reflexões.

Ou como dizia Prof. Paulo Freire (educador e filósofo brasileiro):

"Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.”

Somente por meio do exercício da autonomia (condição inseparável da liberdade), podemos construir conceitos como a responsabilidade e o compromisso com o que é certo. Compromisso esse que somente será estabelecido se confiarmos no ser humano, naquele que será capaz de realizar as escolhas certas, sem que para isso seja censurado ou bloqueado previamente.

QUEM CONFIA NÃO BLOQUEIA, QUEM CONFIA ENSINA.

Resta esperar por dias sujeitos a menos interferências, onde seremos capazes de realizar downloadings e conexões mais democráticas e inspiradoras para nossa cidade, para nossa sociedade e para nossas escolas, professores e alunos.



José Claudio Höfling Filho

Professor desde 2005 do Município de Araraquara e Tutor Virtual da UAB-UFScar (Universidade Aberta do Brasil), mantém um blog virtual para fins educacionais: http://educacaofisicaemquestao.blogspot.com

Um comentário:

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