domingo, 29 de agosto de 2010

ESPORTE E EDUCAÇÃO FÍSICA

ESPORTE E EDUCAÇÃO FÍSICA: A DIFERENÇA IGNORADA


Por: José Guilmar Mariz de Oliveira/ Laércio de Moura Jorge


Sim, Esporte e Educação Física são manifestações, instituições e práticas distintas. A frase “O que quer que seja Educação Física, Esporte é que não é”, enfaticamente escrita e dita, tem causado invariavelmente perplexidade a leitores e ouvintes orientados por uma compreensão baseada no senso comum. De um modo geral e também na comunidade escolar, incluindo alunos, pais, professores e dirigentes educacionais, essa diferença tem sido (1) ignorada no sentido do real desconhecimento da diferença e (2) também ignorada, de forma premeditada, no sentido de desprezo ou desinteresse em relação à problemática, procurando manter-se o “status quo” da confusão estabelecida para auferir-se vantagens da não diferenciação, pois a sustentação de uma proposta educacional/pedagógica séria e coerente, que necessariamente deve considerar tal diferenciação, implica mudanças conceitual e estrutural nem sempre convenientes para projetos oportunistas, improvisados e mercantilistas.


Nós do Colégio Renovação entendemos e adotamos a distinção entre Esporte e Educação Física.
A Educação Física, cuja denominação substituímos por Cinesiologia Humana é um componente curricular obrigatório da Educação Escolar Básica. O Esporte NÃO é um componente curricular obrigatório da Educação Escolar Básica, isto é, não existem aulas de Esporte. Existem sim aulas de Matemática, Língua Portuguesa, Ciências, História, Geografia, Cinesiologia Humana (Educação Física) e Arte (Educação Artística) entre outros.

Nas aulas de Cinesiologia Humana (Educação Física) nossos alunos não praticam Esporte. Nas aulas de Cinesiologia Humana (Educação Física) nossos alunos ESTUDAM, teórica e praticamente, o MOVER-SE considerado como uma característica essencial do ser humano.

Entendemos também que o Esporte representa uma manifestação e uma instituição de inegável impacto junto à sociedade de um modo geral, razão pela qual acreditamos que a Escola não pode omitir-se em relação aos assuntos pertinentes ao Esporte. O mover-se é também uma característica essencial do ser humano, o atleta, envolvido na competição esportiva propriamente dita. Por isso, em algumas aulas do componente curricular Cinesiologia Humana (Educação Física) o mover-se do atleta, nas várias modalidades esportivas, é também, oportunamente, apresentado, discutido, analisado, estudado e vivenciado. Isto não significa que nossos alunos estejam praticando Esporte.

Além disso, o tema Esporte, envolvendo necessariamente a participação do atleta e também conseqüentemente outros constitutivos como torcedores, rádio, jornal, televisão, internet, indústria e comércio de material esportivo, marketing esportivo, dirigentes esportivos, clubes esportivos, etc., é desenvolvido em outros componentes curriculares como por exemplo Ciências (Biologia, Química, Física), História, Geografia, Arte, Ciências Sociais e Matemática, além de ser entendido como um tema transversal na mesma condição e categoria de outros temas transversais que abrangem Ética, Saúde, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural e Orientação Sexual. Obviamente isso também não significa que, nessas situações, nossos alunos estejam praticando Esporte.

Como um aluno pode então praticar Esporte no Colégio Renovação? Sem entrar no mérito da questão “O que é praticar Esporte?” cuja discussão fica para uma próxima oportunidade, nossos alunos podem participar das seguintes atividades correlatas, consideradas extra-curriculares:

CURSOS DE APRENDIZAGEM ESPORTIVA em várias modalidades tais como futebol de salão, futebol Society, voleibol e handebol;

JOGOS INTERNOS realizados anualmente, com a realização de competições inter-classes por meio de jogos com tipificação esportiva e;

EQUIPES DE REPRESENTAÇÃO ESPORTIVA em competições entre Escolas, em várias modalidades tais como futebol de salão, Futebol Society, voleibol e handebol.

Essas atividades extra-curriculares são planejadas, orientadas e desenvolvidas sob a responsabilidade da Unidade Cultural “Esporte”, coordenadas pelo Professor Laércio de Moura Jorge e contando com a orientação específica da Unidade Cultural “Instituto de Cinesiologia Humana de São Paulo”.


Observação: Este texto foi originalmente publicado no Infonews (Informativo do Colégio Renovação), ano I, número 1, Agosto/Setembro de 2003, página 3.

Gostaria de saber mais?

domingo, 15 de agosto de 2010

DISPENSAS EM EDUCAÇÃO FÍSICA - NOVAS INQUIETAÇÕES

É sempre importante e oportuno trazer novas informações e elementos que venham enriquecer as discussões em nosso ambiente. Aproveito a oportunidade para relatar uma dúvida a respeito da utilização de vestimentas nas aulas de Educação Física e consequente solicitação de dispensa enviada pelo Prof. Jean, que em suas palavras:


Sr. José Claudio, sou pastor evangélico e pedagogo, preciso de sua ajuda acerca desse tema, pois algumas pessoas pedem dispensa para não fazer Educação Física com a desculpa de não utilizar short. O que a lei fala sobre isso? E qual seria essa legalidade?

É claro que há uma liberação de poder usar saia em lugar da calça, porém qual é a legalidade para com a Educação Física!

Mensagem enviada para o Prof. Jean:

Olá Sr. Jean.

Com relação a sua questão, não existe nenhum conceito ou determinação na legislação vigente com relação ao uso (autorizado ou não) de saias ou outras vestimentas nas aulas de Educação Física, muito menos a legalidade da solicitação de dispensas das referidas aulas em função do uso dessas vestimentas.

A lei esclarece que as dispensas nas aulas de Educação Física só poderão ser solicitadas pelas seguintes especificações (disponível no link abaixo):


§ 3o A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da educação básica, sendo sua prática facultativa ao aluno:

I – que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis horas;
II – maior de trinta anos de idade;
III – que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em situação similar, estiver obrigado à prática da educação física;
IV – amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de outubro de 1969;
V – (VETADO)
VI – que tenha prole.

O que se tem atualmente como conduta quanto à utilização das vestimentas nas aulas de Educação Física é uma orientação/recomendação por parte dos professores e da equipe escolar para que alunos trajem vestimentas adequadas para a prática da aula.

Mas cabe aqui uma pergunta:

O que são vestimentas/roupas adequadas?

Acredito seriamente que a utilização de camisetas, calções, shorts, bermudas, moletons e tênis se caracterizam como as opções mais ajustadas e funcionais para a prática da aula por apresentarem qualidades na eficiência, flexibilidade e liberdade nos movimentos (característica inerente ás aulas de Educação Física).

Roupas apertadas como o jeans, por exemplo, dificultam a execução e a liberdade de movimentação e apresentam uma influência negativa no que diz respeito à transpiração/suor do corpo humano.

Chinelos, sandálias (com ou sem salto) e botas também não são recomendados em função da exposição excessiva dos pés, podendo ocasionar lesões, entorses ou mesmo doenças de pele (no caso de pés descalços), pois inúmeras quadras podem apresentar fezes de pombos por exemplo ou outro tipo de sujeira que possa comprometer a saúde do aluno.

Com relação às saias, decididamente não se constitui como barreira ou impedimento para a prática de atividades corporais na Educação Física, porém, é sensato dizer que a aluna poderá ficar inibida ou embaraçada em decorrência da realização de determinados movimentos ou situações que possam ser apresentadas na aula.

Cabe ao professor saber lidar com essas questões e promover o diálogo e um manejo de classe apropriado.

Contudo, de forma alguma esse profissional poderá/deverá aceitar uma dispensa por essas condições (uso da saia neste caso) uma vez que fere um princípio fundamental na vida escolar plena do aluno: a de poder desfrutar de todas as formas de educação presentes na escola (nesse caso a disciplina Educação física), componente curricular obrigatório e regulamentado por leis federais.




domingo, 1 de agosto de 2010

BLOGUEIRO APRESENTA TRABALHO EM CONGRESSO

Foi com muita alegria que este blogueiro apresentou seu trabalho no III CONGRESSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR realizado nos dias 3,4 e 5 de junho de 2010 na UNESP (Universidade Estadual Paulista) em Rio Claro.

O evento, que contou com a participação de diversos profissionais da área de Educação teve como objetivo proporcionar aos professores e alunos de Educação Física a possibilidade de atualização/capacitação profissional, por meio de participação em palestras, oficinas pedagógicas e apresentação de relatos de experiência e/ou temas livres.


O tema escolhido para apresentação foi o artigo (já postado neste blog) intitulado: “Fessor... o que vai ter de física?”: a relação entre expectativas de alunos e conteúdos em aulas de educação física.



Estou postando novamente este artigo para apreciação dos meus leitores em versão resumo (apresentado no congresso) e versão para Blog.


Espero que este trabalho seja o primeiro de muitos.

Gostaria de agradecer desde já meus alunos e a Unidade Escolar que trabalho, a EMEF Waldemar Saffiotti (município de Araraquara) porque sem eles (minha fonte de inspiração e dedicação) nada disso seria possível.


Muito obrigado.

Atenciosamente.


PROFESSOR JOSÉ CLAUDIO HÖFLING FILHO


“FESSOR... O QUE VAI TER DE FÍSICA?” : A RELAÇÃO ENTRE EXPECTATIVAS DE ALUNOS E CONTEÚDOS EM AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA. (versão resumo apresentado no congresso)


José Claudio Höfling Filho
Prefeitura Municipal de Araraquara


A frase "Fessor" (professor)... o que vai ter de “física”? (conteúdo da aula de Educação Física) é um retrato do cotidiano das aulas de educação física em nossas escolas – um reflexo marcante (e preocupante) da capacidade que a disciplina de Educação Física tem de criar expectativas prazerosas, de possibilitar ao aluno a chance de construir algo novo e memorável na escola. O presente relato busca compreender a relação entre interesses/expectativas dos alunos e conteúdos ministrados pelos professores de Educação Física do ensino fundamental público do Município de Araraquara. Possibilitar ao aluno a conquista de um desafio, fortalecer suas relações pessoais com os demais colegas, corresponder ás suas expectativas e proporcionar o acesso ao conhecimento são objetivos fundamentais de qualquer professor, porém, a primeira impressão do professor de Educação Física quando se depara com esta frase é a de que o aluno não está interessado no conteúdo a ser desenvolvido em sua aula, mas sim se a atividade a ser trabalhada corresponde às suas expectativas. Visando uma abordagem participativa dos alunos na construção das aulas, histórias dramatizadas foram apresentadas com o intuito de propiciar a construção e reconstrução dos temas com a opinião e reflexão dos alunos frente aos acontecimentos narrados. Os resultados da aplicação dessa estratégia permitiram constatar uma participação significativa dos alunos, bem como uma nova forma de entendimento do que pode ser a Educação Física e de que os próprios alunos são elementos fundamentais do conteúdo de uma aula, ou seja, eles não fazem a aula, eles são a aula. Essa concepção de Educação Física, pautada nas relações a serem estabelecidas entre conteúdos oferecidos e expectativas dos alunos, contemplando múltiplos conhecimentos e oferecendo situações e instrumentos que possibilitem sua crítica, construção e reconstrução, exige uma mudança comportamental por parte dos professores frente a condições escolares quase sempre adversas.

 
FESSOR, O QUE VAI TER DE FÍSICA (versão para Blog)
 
Isto pode parecer estranho para algumas pessoas, mas tenho a convicção de que esta frase é deflagrada diariamente para milhares de professores de Educação Física em suas Escolas por seus alunos.

A frase "Fessor" (entende-se professor)... o que vai ter de física? (entende-se o que teremos - de conteúdo - na aula de Educação Física?) é um retrato cotidiano nas Escolas do Brasil. Muitos alunos empolgados, felizes e assim por dizer, aliviados com o término de suas aulas regulares e o início da aula de Educação Física se pegam a dizer esta frase com todo o entusiasmo e alegria que uma criança pode ter.

Esse é um reflexo marcante (e também preocupante) da capacidade que a disciplina de Educação Física possui em criar expectativas prazerosas, de possibilitar ao aluno a chance de construir algo novo, algo vitorioso, algo memorável naquele dia.

O fracasso é algo comum em uma sala de aula. Inúmeras vezes alunos fracassam na sala de aula de diversas maneiras, seja na tentativa de realizar uma atividade, no desenvolver de sua leitura de forma adequada ou simplesmente na construção de suas relações pessoais (aluno – professor/ aluno – aluno) de forma harmoniosa.

Encerrar o dia de aula e criar um sentimento de algo cumprido, algo que era tangível e foi preenchido e conquistado é um desafio sem tamanho para um aluno.

SENTIMENTOS E MEMÓRIAS COMO ESSAS SÃO POSSÍVEIS DE SE CONSTRUIR EM UMA AULA DE EDUCAÇÃO FÍSICA?

Possibilitar ao aluno a conquista de um desafio, fomentar e fortalecer suas relações pessoais com os demais alunos, corresponder as suas expectativas e proporcionar o acesso ao conhecimento são objetivos a serem alcançados pelo Professor de Educação Física em suas aulas, ou melhor, são objetivos tangíveis?

A primeira impressão que pode passar na cabeça do professor quando se depara com esta frase é de que o aluno não esta interessado no conteúdo a ser desenvolvido em sua aula, mas sim se a atividade a ser trabalhada corresponde as suas expectativas, ou seja, se o professor disser/propuser um conteúdo que não lhe agrade, certamente sua exaltação será refreada.

Cabe aqui uma pergunta bem humorada: será que esse mesmo aluno ao chegar à sala de aula, fará a mesma pergunta para sua professora? “Fessora”... o que vai ter de Matemática (Português, Ciências, História entre outros).

Para você Professor de Educação Física, desafio realizar este tipo de indagação para seu aluno de maneira bem espirituosa (ou seja, inverta essa situação de frase para outra disciplina). Você ira se surpreender com seus alunos.

MAS COMO ESTE TIPO DE COMPORTAMENTO TORNOU-SE COMUM NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA?

Creio que a primeira conjuntura de evidências pode ser fundamentada na qualidade do currículo desenvolvido pelos profissionais de Educação Física. O empobrecimento de conteúdos, a falta de planejamento e principalmente a qualidade de construção de aulas e atividades por parte de nossos profissionais certamente contribuem para esse resultado.

Boa parte desse saldo que nos é apresentado se deve ao fato da marginalização da Educação Física no Escopo Escolar. Nos PCNs (1997) uma frase corrobora com essa discussão.

“Outra situação em que essa marginalidade se manifesta é no momento de planejamento, discussão e avaliação do trabalho, no qual raramente a Educação Física é integrada. Muitas vezes o professor acaba por se convencer da pequena importância de seu trabalho, distanciando-se da equipe pedagógica, trabalhando isoladamente.” (PCN’s, 1997)

Decididamente essa constatação é contemporânea e muito bem conservada para os debates nas esferas da Educação Física Escolar. Quantos de nossos profissionais nunca ou raramente se sentaram em Reuniões de Conselho, de planejamento ou de professores (para o desenvolvimento de atividades multidisciplinares) ou para construção de suas atividades e conteúdos. Abro espaço aqui para uma experiência vivida em minha profissão como Professor de Educação Física que reflete bem o que estamos vivenciando.

Já participei de várias reuniões de Conselho em que foram debatidas e explanadas as relações de disciplina/faltas e suas consequências nas avaliações. Infelizmente a Educação Física parece não ser relevante para este tipo de discussão e muito menos oportuna para ser incluída nesses documentos e resultados (embora apresentemos inquietantes problemas de faltas/evasão em nossa disciplina, mas essa é uma questão que deixo para discussão em uma próxima oportunidade).

O que podemos dizer disso? Reducionismo ou desqualificação de nossa categoria por parte de outros profissionais da Escola ou desinteresse de fortalecer e prestigiar nossa disciplina por parte de nossos profissionais?


Certamente esse “apequenamento” da importância da Educação Física na Escola é sustentada (de forma inconsciente ou por conveniência) por parte de muitos profissionais de nossa área. “Mexer no que esta quieto, fácil e bom” (pelo menos para estes profissionais) é um reducionismo profissional sem precedentes e põe em risco a credibilidade e sustentabilidade da disciplina para o presente e o futuro.

Este pensamento também é defendido por diversos profissionais no qual destaco a Profª Luciane Sanchotene Etchepare (2005) que salienta a falta de comprometimento do professor de Educação Física para a valorização de sua profissão:

“Atualmente vemos uma grande desvalorização da Educação Física na escola, além de pouco comprometimento por parte de professores em tornarem suas aulas atrativas, motivantes e principalmente importantes para a vida do aluno. Muitos daqueles que não freqüentam as aulas de educação física na escola, freqüentam academias e clubes pagos, não se enquadrando como sedentários, mas somando-se aos que estão descontentes com o ensino da escola por parte dos profissionais que ministram essas aulas.

A frase “soltar a bola para que os alunos se divirtam” muito difundida (proposital e erroneamente) por inúmeros profissionais de outras áreas (e porque não os nossos?) não é só uma resposta muito menos um desconhecimento da Concepção da Educação Física por parte deles, mas um alerta para o futuro de nossa profissão.

A mudança do comportamento profissional, das nossas ações e atuações na Escola passa por um entendimento do que é EDUCAÇÃO FÍSICA e qual sua concepção nos dias de hoje. Sua relevância deve estar sempre voltada para necessidades dos alunos, através da contemplação de múltiplos conhecimentos e do oferecimento de situações e instrumentos que possibilitem sua crítica, construção e reconstrução.

Referências Bibliográficas:

Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Educação física /Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1997.96p.

Educação física, vida e currículo. Profª Luciane Sanchotene Etchepare, Profº Érico Felden Pereira, Profª Clarissa Stefani Teixeira. Revista Digital - Buenos Aires - Ano 10 - N° 87 - Agosto de 2005. http://www.efdeportes.com/efd87/efcur.htm